sábado, setembro 29, 2007

E agora, algo completamente diferente




Sou um enorme fã dos Monty Python. De facto, grande parte da minha infância foi passada sentada em frente à televisão a ver as cassetes dos vários episódios e filmes deste incrível grupo que o meu pai foi gravando ao longo da sua vida. Os Monty Python fizeram algum do melhor humor que eu jamais vi, e deram-nos tais pérolas cinematográficas como "Em Busca do Cálice Sagrado" ou "O Sentido da Vida" (um filme que tem momentos de humor tão bons que existem alturas em que eu fico simplesmente parvo a olhar para o ecrã).

Foi, por isso, com algum cepticismo que entrei no Casino de Lisboa para ver "Os Melhores Sketches dos Monty Python", um espectáculo em que um elenco de luxo (Miguel Guilherme, Jorge Mourato, António Feio, Bruno Nogueira, e José Pedro Gomes) interpreta alguns dos mais conhecidos sketches deste tão famoso grupo... sketches traduzidos e adaptados à língua portuguesa. E esta ideia não me agradava muito. Se tentassem fazer algo novo a partir dos sketches, sem se manterem fiéis ao espírito Python... o espectáculo seria um fracasso. Porque, apesar de a equipa envolvida ser sem dúvida talentosa (além do elenco, Nuno Markl foi quem fez a adaptação/tradução dos sketches)... ninguém, mas ninguém, chega aos calcanhares dos Monty Python.

É, por isso, com uma enorme satisfação que digo que o especáculo é muito bom. Mesmo muito, muito bom. É, acima de tudo, uma magnífica homenagem, extremamente fiel ao espírito dos Python... havendo ainda espaço para uma ou outra piadita tipicamente portuguesa. O elenco é todo ele óptimo (fiquei, acima de tudo, impressionado com o Jorge Mourato, que me parecia ser o mais fraquito do elenco... mas que teve também ele uma performance fabulosa), as traduções/adaptações excelentes.. e é nostálgico ouvir o tema dos Monty Python a tocar por algumas vezes ao longo do espectáculo, ou até mesmo a voz do António Feio a dizer "E agora, algo totalmente diferente".

E além disso, a equipa atreveu-se mesmo a ir onde eu julguei que não se atreveriam, já que os sketches dos Python são mais longos e mais complexos que o normal... esperava que se ficassem pelos sketches mais curtos, mas chegaram mesmo a fazer aquele que eu considero um dos mais complexos, longos, e melhores sketches que os Python já fizeram: o incrível sketch d'A Piada Mortal.

Por isso, sejam ou não fãs dos Python, vão o mais rapidamente possível ver este maravilhoso espectáculo. Se forem grandes fãs, como eu, adorarão o espírito de homenagem e a fidelidade do espectáculo. Se nunca tiverem sequer ouvido falar dos Monty Python... preparem-se, porque depois disto ficarão fãs.

(E, numa nota à parte... desde quando é que a Pontinha se tornou tão famosa? É que, raios, esta localidade foi por duas vezes mencionada ao longo do espectáculo! E sendo eu um habitante da Pontinha... enfim... Obrigado, Nuno Markl! (é claro que não se referiam à Pontinha de uma forma muito elogiosa, mas paciência...))

sábado, setembro 22, 2007

Finalmente! O trailer de "Southland Tales"!

Finalmente chegou até nós o trailer da obra que marcará o regresso de Richard Kelly após a sua brilhante obra de estreia: o incrível "Donnie Darko".

O trailer é magnífico e, digam o que disserem acerca do elenco, este ainda há-de ser um dos filmes do ano.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Adeus, Premiere




Foi irónico a simultanemanete triste que hoje, o dia em que comprei finalmente a edição de Setembro (que já me escapava à muito), tenha sido também a triste data da revelação de um enorme vazio que nasce agora na imprensa portuguesa: a "Premiere" deixará de ser publicada em Portugal, sendo a edição de Outubro a última da revista.

Longe de ser uma revista perfeita, a "Premiere" era ainda assim a única publicação inteiramente dedicada à Sétima Arte do mercado português. Gostemos ou não da revista (eu, pessoalmente, era um comprador assíduo), existe agora um vazio. Um triste vazio não só na nossa imprensa, mas também no actual panorama cinematográfico português.

Esperemos que surja em breve uma outra publicação capaz de ocupar o vazio que agora existe. Uma publicação que consiga talvez até mesmo superar a "Premiere". Quem sabe... talvez uma nova publicação feita por esta geração cinéfila que existe agora na blogoesfera portuguesa, e que já é ela própria como uma enorme e gigantesca "Premiere" online, feita por centenas de colaboradores...

Vou agora continuar a saborear lentamente esta edição de Setembro, sabendo que de Outubro será a última... a última "A Guerra das Estrelas", o último "Os Dias de Criswell"...

A última edição de uma revista que, para o melhor e para o pior, era inegavelmente um pedaço significativo do universo cinéfilo português.

Podem ler aqui o comunicado/despedida de José Vieira Mendes.

domingo, setembro 16, 2007

Lembram-se daquele comentário áudio ao "The Fountain" que o Aronofsky disse que qualquer dia colocava na Internet?




Voilá. Ainda não o ouvi do princípio ao fim, como tenciono fazer enquanto vejo o filme, mas já estive a dar uma olhadela (aka a ouvir um pouco) e... para os que esperavam uma completa explicação do filme... lamento, mas não terão isso. Mas, afinal de contas, o que haverá para explicar num filme cuja história se rege mais por sentimentos do que factos, e em que a trama em si é talvez o factor menos importante? Aronofsky quer que o filme seja aberto à interpretação, que cada espectador veja o filme à sua própria maneira... e assim será. Mas, ainda assim, o comentário (pelo que ouvi) expõe um ou outro tema existente no filme... ou seja, não esperem pensar "Ahhh, então é isto que aquilo significa!", mas antes "Ahhh, não sabia que aquilo, além de significar aquilo que eu achava que significava, também significa isto!".

Aronofsky fez uma meditação, não uma explicação.

E ainda bem, já que desta forma "The Fountain" mantém-se como um exemplo magnífico daquela que é uma das mais poderosas caracterísiticas do cinema (e da arte em geral): a sua subjectividade. E além disso, é também um enorme exemplo do quão poderoso e único um filme pode ser, já que "The Fountain" é, pura e simplesmente, uma experiência arrebatadora.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Momento hilariante (e sábio!) do dia III




Amem-no ou odeiem-no... é complicado não respeitar este homem.

quarta-feira, setembro 12, 2007

O Túmulo dos Pirilampos, de Isao Takahata

Nota: esta crítica discutirá alguns aspectos importantes da trama desta obra. Se ainda não viram o filme e desejam sem qualquer tipo de conhecimento da sua história, por favor não leiam esta crítica. Apesar de o desfecho da história ser revelado logo no seu início, mas enfim... Esta é uma obra incrível, e não quero correr o risco de a estragar a alguém.



Lágrimas

"O Túmulo dos Pirilampos" é uma obra que nos entra de rompante no nosso ser, dirige-se ao nosso coração, parte-o em pedaços, e ao mesmo tempo sussurra-nos ao ouvido algo que deverá ficar connosco durante o resto dos nossos dias. Este é um filme devastador. Emocionalmente devastador. Digo sem preconceitos que "O Túmulo dos Pirilampos" é o mais triste, comovente, tocante filme que vi até hoje.
É, por isso, complicado falar desta obra-prima. A ligação criada com o espectador é de tal forma forte que este tem dificuldades em exprimir o que sente em relação a ela. Posso dizer, no entanto, que este é talvez o mais poderoso filme anti-guerra jamais feito. Mas ao mesmo tempo arrependo-me de dar a este filme a etiqueta de "filme anti-guerra". É anti-guerra, sim, mas é também muito mais que isso.

Esta é a história de dois irmãos: Setsuko, uma jovem rapariga de quatro anos, e Seita, um jovem rapaz de catorze anos. Ambos são vítimas de um bombardeamento durante a Segunda Guerra Mundial, sendo obrigados a procurar refúgio em casa de sua tia. Ela, no entanto, começa gradualmente a tratá-los com desprezo, guardando para ela e os seus convidados grande parte da comida, e acusando-os de serem inúteis para o país em estado de guerra. Seita decide então pegar na sua irmã e abandonar a casa de sua tia, de forma a poderem viver sozinhos da forma que decidirem. Encontram um pequeno refúgio, similar a uma caverna, e decidem fazer desse lugar a sua nova casa. Infelizmente, a comida começa rapidamente a escassear, e a sobrevivência dos irmãos é ameaçada.

"O Túmulo dos Pirilampos" é, pois, na sua forma mais básica, uma história de sobrevivência. O seu desfecho, no entanto, é revelado imediatamente no início do filme: ambas as crianças morrem. E, ao longo de todo o filme, o espectador acompanha os seus espíritos à medida que estes relembram o passado antes da sua morte.

O facto de sabermos desde o seu início o desfecho do filme torna-o ainda mais devastador em termos emocionais. Vemos os dois irmãos a tentarem desesperadamente sobreviver, vemo-los a tentarem cuidar um do outro, vemo-los com a tão típica inocência e esperança da juventude... mas nada disso os poderá salvar do seu fim trágico. Pois serão ambos vítimas não da guerra em si, mas do tipo de sociedade que dela deriva. Vítimas do médico que trata Setsuko com indiferença; vítima da tia que os trata com desprezo: vítimas do enraivecido agricultor que apanha Seita a roubar por desespero. São, pois, vítimas de uma sociedade derivada de um conflito que tolda as mentes dos habitantes de um país, tornando-os insensíveis, e até mesmo egoístas. Tal sociedade, consequência de um conflito que já por si tem inevitáveis efeitos devastadores, não foi feita para suportar duas inocentes crianças que desejam apenas sobreviver. A tragédia de Seita e Setsuko era inevitável dentro de tal sociedade.


"O Túmulo dos Pirilampos" foi realizado por Isao Takahata, co-fundador (juntamente com o grande Hayao Miyazaki) do Estúdio Ghibli. Ninguém faz animação como o estúdio Ghibli, mas esta é de longe a sua obra mais emocional e poderosa. É um drama de um poder incrível que revela que a animação japonesa (o chamado "anime") não é apenas um género, mas antes um estilo dentro do qual existem vários géneros. Existe, infelizmente, o preconceito de que a animação é apenas para crianças. Os filmes do Estúdio Ghibli já há muito que demonstraram o quão errado é esse preconceito. "O Túmulo dos Pirilampos" não é uma comédia familiar, não é um filme com feiticeiros e magia, não é um filme em que tudo acaba bem no final... é um poderosíssimo drama. Um drama que, por acaso, é animado.
E o filme ganha com isso. Não consigo imaginar esta obra como um filme de imagem real (existe uma versão em imagem real... mas essa concentra-se na perspectiva da tia, e não na dos irmãos). O cinema de animação sempre teve uma certa magia que lhe permite várias coisas, entre elas o realçar dos sentimentos das personagens. Esse realçar atinge o seu auge com a obra-prima de Isao Takahata. Os animadores criaram duas personagens incrivelmente humanas, seja no incrível pormenor da forma como Setsuko treme de medo após um bombardeamento, ou na forma como a boca de Seita se deforma quando este chora.
O grande trunfo do filme é o desenvolvimento da relação entre os dois irmãos, tratada de uma forma extremamente realista (magnífica a forma como mostram os irmãos a brincar na praia, ou a brincarem no banho... pormenores que podem não ser de uma necessária importância para a história, mas que são de uma extrema importância para aquilo que o filme quer transmitir). Seita age como um rapaz de catorze anos, e Setsuko age como uma rapariga de quatro anos. E ambos agem como dois irmãos reagiriam, brincando um com o outro, cuidando um do outro, preocupando-se um com o outro... de facto, "O Túmulo dos Pirilampos" é um filme que transmite mais realismo e mais emoção (é, tal como já disse, o filme mais triste/comovente que vi até hoje) que grande parte dos filmes de imagem real que existem por aí.

Este não é um filme fácil. Chorei como já não chorava há muito quando o vi, e marcou-me como uma obra cinematográfica raramente consegue. E é por isso que é o melhor filme anti-guerra que jamais vi. De todos os filmes anti-guerra que vi até hoje, este atreve-se a ir onde os outros não se atreveram. Não existe embelezamento, apenas realismo. Existe esperança, mas ela não se confirma. E, tal como várias outras crianças, Seita e Setsuko são vítimas de uma guerra que não pediram, de uma guerra na qual não participam.

Este é um filme que viverá comigo até ao fim dos meus dias. É um filme cuja lição não deve ser esquecida para que o passado não se repita no futuro. E para que nunca esqueçamos aqueles que pereceram pelos erros cometidos no passado.
"O Túmulo dos Pirilampos" é uma obra tão poderosa quanto obrigatória, e deve urgentemente e obrigatoriamente ser visto por qualquer amante da vida humana. Apenas assim poderemos verdadeiramente perceber os horrores da guerra, e derramar lágrimas por aqueles que pereceram no passado. Muitas, muitas lágrimas.



10/10

terça-feira, setembro 11, 2007

Desafio

Resposta ao (excelente e original) desafio que me foi lançado pelo Cataclismo.

1) Pegar no livro mais próximo: "Dune", de Frank Herbert

2) Abri-lo na página 161: Uh hu...

3) Procurar a 5ª frase completa: 'The blasted carryall disappeared'

4) Colocar a frase no Blog: Feito

5) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo): Não escolhi nem a melhor frase nem o melhor livro (apesar de ter a possibilidade de ter feito ambos).

6) Passar o desafio a 5 pessoas:

Wasted Blues
And She Said
Grandes Planos
Movies Confidential
CinePt

segunda-feira, setembro 10, 2007

Olha! Já passou um ano!

Foi há precisamente um ano atrás que criei este pequeno canto, fruto do meu desejo de comunicar com uma uma comunidade cinéfila em tão amplo crescimento e tão diversificada como o é a blogoesfera portuguesa. Desejava expôr a minha opinião e ouvir a dos outros. Queria aprender, partilhar... entrar em contacto com outros cinéfilos. Porque, afinal de contas, o cinema foi feito para ser discutido e, acima de tudo, partilhado.

Este meu pequeno canto deu-me a possibilidade de fazer tudo isso. Tenho tido a oportunidade de interagir com todo o tipo de pessoas, e de aprender com isso. Aprendi não só sobre cinema mas também sobre... digamos, a natureza da arte no geral. E também sobre as relações humanas que se podem criar neste fabuloso meio que é a Internet.

A todos os que visitam este blogue, o meu enorme obrigado. E um obrigado igualmente grande para todos os outros bloguistas que povoam esta blogoesfera, que me inspiraram ao ponto de criar o "Cinefolia", e que ainda hoje me inspiram e entretêm com as suas palavras.

Desejo poder continuar a crescer e a aprender no meio desta maravilhosa comunidade. E esperemos que o blogue possa, ao longo de mais um ano, reflectir isso mesmo.

Já passou um ano... que venham muitos mais (ou pelo menos mais alguns...)!



sábado, setembro 08, 2007

Dragonball Z: O Filme... de imagem real (?!!)

"Looking for a job in the movie industry? It might not be a bad idea to move to Montreal, where -- as The Montreal Gazette reports -- three big-budget projects are scheduled to start filming in the next nine months.

The movies -- all of which are being distributed by 20th Century Fox -- include the Night at the Museum sequel, Another Night; Roland Emmerich's Fantastic Voyage remake; and the long-planned Dragonball Z adaptation. It's this last title that's probably of most interest to the RT faithful, and though the article isn't exactly long on details, it does mention that each of the films carries a budget of at least $100 million, and says all three of them are "expected to wrap production by next July."

The Dragonball Z anime series, which originally ran from 1989 to 1996 (and was itself a sequel to the 1986-1989 Dragon Ball series), adapted creator Akira Toriyama's hugely successful 1984-1995 manga for television audiences. With all that history -- not to mention a devoted worldwide fanbase -- mounting a live-action film adaptation is much easier said than done, which is part of why Fox has had Dragonball Z in and out of development for years. Some fans had (perhaps wishfully) given it up for dead, but it's apparently on a fast track; presumably, we'll be hearing more details soon.

For more information on these projects -- including a few extra tidbits about Another Night and Fantastic Voyage -- click the link below."

Fonte:
Rottem Tomatoes

Sim. Parece que isto vai mesmo acontecer.

Ora bem... eu cresci nos anos 90. Eu vivi toda aquela loucura do "Dragon Ball Z", do "Pokémon" (e considero mesmo alguns dos filmes "Pokémon" bons filmes de animação... e agora o blogue acabou de perder qualquer tipo de credibilidade que pudesse ter vindo a ter), e etc etc.
Hoje em dia ainda tenho uma certa afectividade por esta anime. Mais por valores nostálgicos que outra coisa qualquer (apesar de a animação, mesmo hoje em dia, ser de boa qualidade). Fui ver o filme quando estreou no cinema e é claro que o adorei (até me lembro que houve uma certa controvérsia quando estreou por cá... dizia-se que era demasiado violento).
E sejamos honestos... com uma dobragem destas, era impossível não gostar da série.

E agora vão fazem um filme de imagem real a partir daquela que é discutivelmente uma das mais populares animes de sempre. De imagem real. E é de Hollywood. Eu não digo que seja impossível fazer bons filmes a partir de animes (um dos meus filmes predilectos é o absolutamente incrível "Casshern", baseado na respectiva anime), muito pelo contrário... mas duvido muito que Hollywood consiga pegar na anime e... digamos, interpretá-la da forma correcta.

Ou seja, eles vão pegar nisto:







E transformá-lo nisto:




Mas será que não podem deixar a minha infância em paz? Enfim... será interessante ver um actor qualquer com uma peruca a voar preso por fios gritando ao mesmo tempo "KAMEHAMEHAA!!". Quem sabe... talvez até seja uma bela comédia.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Esta magnífica comunidade cinéfila...

Peeping Tom é um pequeno fórum de cinema criado pelo Paulo como descendente directo do extinto Cinestesia. O fórum é ainda relativamente recente, e é de um potencial enorme. Por lá fazem parte alguns ilustres bloguistas (ou será mais adequado dizer "bloggers"? Enfim...) da blogoesfera portuguesa, e todas as conversas são de um tom casual e ao mesmo tempo algo intimista, algo que nunca antes tinha encontrado desta forma nas outras comunidades cinéfilas (que aparecem tão frequentemente inundadas por aquela irritante espécie apelidada de "fanboy"...). Tenho, por isso, uma certa afeição por este pequeno canto.

Faço este post pela mesma razão pela qual criei este blogue: quero contactar com cinéfilos. Quero aprender, quero que as minhas opiniões sejam ouvidas enquanto que ao mesmo tempo oiço as dos outros. Creio que este pequeno fórum é talvez um dos melhores lugares para que isso aconteça, e faço por isso agora este pequeno e tão merecido momento de... digamos, publicidade.

Peeping Tom é uma comunidade que merece sem dúvida a atenção da comunidade cinéfila portuguesa. Por isso mesmo, juntem-se a nós (que final de post tão "Batatoonesco", mas enfim...)!

quinta-feira, setembro 06, 2007

Épico e Intemporal

"Sobrevivemos mais uma vez"

Incrível como o cinema de ontem é tão frequentemente mais poderoso que o cinema de hoje.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Sympathy for Mr. Vengeance, de Park Chan-Wook


Ambiguidade moral

"Sympathy for Mr. Vengeance", o primeiro da trilogia de Park Chan-Wook em relação ao complexo tema que á a vingança, é o mais cru, o mais brutal e o mais trágico dos três filmes. O filme conta a história de um jovem surdo que, de forma a obter o dinheiro necessário para o transplante de fígado que a irmã necessita, rapta uma rapariga de forma a pedir um resgate ao pai. A história vai-se lentamente desenvolvendo numa história de vingança em que o espectador é confrontado com a questão colocada no próprio título do filme: o filme possui dois "senhores vingança"... mas para qual deles vai a nossa simpatia? Ambos têm uma razão para o seu desejo vingativo, ambos são personagens consumidos por esse desejo. Nenhum deles é um herói, nem nenhum deles é um vilão... estão apenas consumidos por um desejo que nasceu de uma dor que nenhum deles consegue controlar. Como diz, a certa altura do filme, uma das personagens para outra: "Eu sei que és um bom tipo... mas sabes porque é que te tenho de matar, não sabes?".

O filme é todo ele uma (poderosa, deprimente e trágica) experiência. Park Chan-Wook filmou esta obra de uma forma... crua, mas ao mesmo tempo poética. Os ângulos todos eles magnificamente calculados, os efeitos sonoros do ambiente desconcertantes e usados de forma perfeita, e a banda-sonora do mais minimalista possível aparece em momentos apenas estritamente necessários para dar ao filme um tom ainda mais trágico, cru, e poderoso. O filme tem apenas os diálogos necessários, sendo esta uma obra que fala maioritariamente através de longos planos repletos de uma poesia trágica como raramente vemos no cinema. O filme está, ainda assim, repleto de pequenas pitadas de um extremamente subtil humor negro... algo que ajuda ainda mais a estimular o tom tão característico desta obra-prima.

Os actores fazem todos eles um trabalho fabuloso (com uma pequena menção especial para a adorável rapariga que faz de raptada... de uma inocência e jovialidade tocante). O filme trata as suas personagens como seres humanos, com as suas falhas e as suas qualidades. Lentamente, todas elas vão caindo numa espiral que não podem controlar. Uma espiral de vingança e de dor.

Em "Oldboy", Park filmou a vingança como extremo do ser humando... um extremo da nossa decadência, da nossa obcessão. Em "Lady Vengeance", filmou a vingança como um acto que, apesar de por vezes talvez podendo ser considerado "justo", nunca traz aquilo que o vingador deseja verdadeiramente: redenção... ou o desejo do regresso de uma certa paz. Em "Sympathy for Mr. Vengeance" a vingança é um acto humano.... e, como grande parte dos actos humanos, é ambíguo. Existe sempre um outro lado, existe sempre uma consequência. E essa consequência nunca pode ser controlada.

Sendo Park um realizador com um estilo algo expressionista (podemos, pois, compará-lo a Aronosky) este queria que, ao longo de "Sympathy for Mr. Vengeance", a cor fosse lentamente desaparecendo, até que a meio do filme este se tornasse a preto-e-branco. Infelizmente, o orçamento do filme não permitiu o uso de tal efeito. É uma pena, já que (e uso agora as palavras de Jamie Russel, crítico de cinema) "essa técnica teria sido perfeitamente adequada a este tour de force niilista, no qual não existem as cores preto e branco... apenas tons de cinzento".

"Sympathy for Mr. Vengeance" é um filme tão deprimente e poderoso quanto obrigatório, e seria apenas a primeira de apenas três obras-primas que criariam uma das mais incríveis trilogias jamais vistas no cinema. Trilogia essa que revelou Park Chan-Wook como um dos grandes visionários do cinema contemporâneo.



10/10

sábado, setembro 01, 2007

Obrigado, Cinemateca!



Dia 6 de Setembro, 5º feira, será o dia em que a Cinemateca irá passar o mais popular filme de Akira Kurosawa: "Os Sete Samurais". Infelizmente, eu nunca antes tive a oportunidade de visionar esta suposta (e provável) obra-prima. Mas esta quinta-feira matarei dois coelhos de uma só cajada: irei ver finalmente a obra de Kurosawa, e farei também a minha primeira visita à Cinemateca, algo que já desejo fazer há anos. Nunca se proporcionou, mas irei finalmente visitar aquele verdadeiro santuário dedicado ao Cinema. Se passarem por lá na quinta, eu vou ser o tipo excitado que não se cala (antes do filme, claro, e nunca mas nunca durante o seu visionamento) e que anda de um lado para o outro a observar tudo com um sorriso no rosto.

"Os Sete Samurais" passará fazendo parte do ciclo no ciclo "Um País, um Género: o Japão e o Cinema Histórico", ciclo este que ocorrerá durante o mês de Setembro, sendo exibidos durante os dias de semana, sempre às 15:30, um filme ou documentário dedicado ou proveniente deste país. Teremos, pois, filmes de Myiazaki, Kurosawa, Mizoguchi, e Kitano.

Para mais informações acerca da programação da Cinemateca durante o mês de Setembro, cliquem aqui: http://cinemateca.pt/imgs/programacao/doc.pdf