quarta-feira, agosto 22, 2007

Ratatouille, de Brad Bird

Quando o novo e o velho se misturam


Sempre gostei de Brad Bird. A minha admiração por ele nasceu após este ter feito o absolutamente magnífico "The Iron Giant", um filme de animação com uma profundidade a maturidade como já não se via há muito no cinema americano. Após essa magnífica obra, veio "The Incredibles". E eu não gostei particularmente de "The Incredibles". Pareceu-me um filme desequilibrado, que tentava ser profundo e manter ao mesmo tempo um sentido cómico inerente aos filmes de animação. Respeitei a tentativa de Bird, mas não a apreciei muito.
Mas eu sabia que Brad Bird era extremamente talentoso. Sabia que ele tinha potencial para ser um dos grandes autores do cinema de animação contemporâneo. Faltava apenas mais uma obra que confirmasse esse potencial, esse talento...

E aqui está ela. "Ratatouille" é ainda melhor que "The Iron Giant", é um clássico instantâneo do cinema de animação, um filme de um sentido clássico e de uma honestidade que são de génio. E a consagração de Brad Bird como (tal como já disse) um dos grandes autores do cinema de animação contemporâneo. Porque o cinema de Bird é verdadeiro cinema de autor. "Ratatouille" é um filme intimo, pessoal... e é por isso que é um filme brilhante. Bird fez o filme com amor, criando uma obra que foge aos clichés do género e de uma complexidade emocional (a personagem do crítico, interpretada na perfeição por Peter O'Toole, é um dos melhores exemplos disso) magnífica.

De facto, "Ratatouille" é um pouco como um upgrade da magia dos antigos filmes da Disney (convém mencionar que este é o primeiro filme feito após a fusão da Pixar com a Disney). Um filme que tem essa magia, mas ao mesmo tempo inova em termos de complexidade e actualidade. Não temos canções nem animação em 2D... temos antes personagens realistas, humanas, e um filme com um argumento imaculado, que mantém o espectador interessado do início ao fim, criando uma história que nunca cai na previsibilidade.



Visualmente, o filme é (tal como a Pixar nos tem vindo a habituar) uma verdadeira pérola. Os humanos são criados de uma forma caricatural, dando ao filme um ar vivo e energético. As ratazanas (que apenas o são de espécie, garanto-vos) são também elas maravilhosamente criadas, cada uma com o seu ar característico. Garanto-vos que, no final, é impossível não sentirmos uma fortíssima ligação com a personagem de Remy (interpretado na perfeição por Patton Oswalt), a jovem ratazana que deseja ser um cozinheiro na cidade das luzes (e da melhor comida): Paris. Brad Bird consegue, de forma brilhante, recriar e transmitir sentimentos humanos a partir de um ser que não é um humano. De facto, ninguém faz isto melhor que a Pixar.

Acho curioso ouvir pessoas a apelidar "Ratatouille" de comédia. As piadas (sempre de bom gosto e de bom coração) existem, sim, mas são usadas apenas como utensílios de modo a dar o tom perfeito ao filme. E, além disso, elas têm sempre um objectivo... quer seja para revelar o quão desastrado Linguini (o rapaz que faz parceria com Remy, aproveitando os dotes culinários do animal), ou para revelar o quão determinada é Colette (a única mulher existente na equipa de cozinheiros do restaurante). "Ratatouille" não é uma simples comédia. É um filme profundo, intímo, clássico e complexo ao mesmo tempo.

Brad Bird criou um clássico instantâneo do cinema de animação. Um filme que relembra os antigos filmes da Disney que povoavam a nossa infância, ao mesmo tempo criando um filme talvez mais complexo, actual e intímo que esses próprios filmes. É um filme honesto, clássico, intimo, e profundo. A mensagem de "Ratatouille" (não estamos condicionados pelas nossas origens ou pela nossa situação actual... nem todos podem ser um génio, mas um génio pode aparecer de qualquer lado) tem tanta importância hoje como daqui a trinta anos.

É um dos filmes do ano e dos grandes filmes de animação da década (juntamente com "Finding Nemo" e "A Viagem de Chihiro"). Um clássico instantâneo que prova aquilo que julgávamos impossível: afinal de contas, aquela magia dos antigos filmes 2D não desapareceu. Apenas se manifesta de uma outra forma.


9.5/10

(Aviso-vos já que, com um revisionamento, é bem provável que isto suba para um 10 redondo)

4 comentários:

Cataclismo Cerebral disse...

Fico contente por verificar que o Ratatouille tem sido amado pelo público cinéfilo. Ainda não o vi, mas estas reacções já indicam que provavelmente vou gostar muito deste filme.

Abraço!

Gonçalo Trindade disse...

É um filme absolutamente maravilhoso :). Já há muuuuito tempo que não via um filme de animação assim. Merece toda a adoração que tem recebido (tanto por parte da crítica como do público). Fico à espera da tua crítica ;).

Abraço!

Carlos Pereira disse...

Uma obra-prima, pelo menos para mim. É absolutamente mágico!

Gonçalo Trindade disse...

Concordo. É um clássico instantâneo do cinema de animação e tem todo ele uma magia que... enfim, lembra os antigos filmes da Disney, mas ao mesmo tempo pega nessa mesma magia a consegue fazer algo de inovador.