domingo, setembro 10, 2006

2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick


Muito estilo e pouca substãncia

2001: Odisseia no Espaço é considerado uma obra-prima. Um marco incortonável na história do cinema. E é, de facto, um filme extremamente original e único.

Deveria aqui colocar uma pequena introdução à história e às personagens do filme. Vou dar o meu melhor na introdução á história. Mas nada posso fazer em relação ás personagens. Odisseia no Espaço é um filme que não tem personagens. Mas isso é para falar mais á frente na crítica...

Nos primórdios da humanidade, um grupo de macacos pré-históricos descobre um estranho objecto, de criação artificial, colocado no planeta Terra. Esse objecto acaba por afectar o seu desenvolvimento, levando-os a evoluir para aquilo que somos hoje.
Milhares de anos mais tarde (provavelmente no ano 2001, sendo esse o título do filme) um cientista é enviado, juntamente com uma equipa, á superfície da lua onde um estranho objecto (similar àquele encontrado milhares de anos antes) foi encontrado.

Não quero estragar a história a ninguém, por isso não vou avançar mais (temendo, na realidade, que talvez até já tenha avançado demasiado).

Odisseia no Espaço é um filme diferente de todos os outros filme jamais feitos até hoje, com um estilo único. As longas sequências lentas, acompanhadas por maravilhosos segmentos de música clássica, a forma realista como o filme encara a vida no espaço... a própria história é única, e contada de uma forma única.

Ou seja, é um filme com muito, muito estilo.

Mas pouca (ou nenhuma) substância.

Kubrick atira-nos com uma história estranha à cara, e diz-nos para sermos nós a interpretá-la. Mas não vale a pena interpretá-la. A história não tem nenhuma lição moral, a história não é nenhuma metáfora para a demonstração de sentimentos humanos. A única emoção transitida pelo filme é a de humanização de seres artificiais, revelada por Kubrick numa cena brilhante.

Uma cena que dura cerca de cinco minutos... e cinco minutos de emoção para um filme que dura mais de duas horas é muito pouco...

Ou seja, 2001: Odisseia no Espaço é mais uma proeza técnica do que outra coisa qualquer. Kubrick usa uma história sem objectividade para utilizar todo o tipo de brinquedos ao seu dispôr, para criar uma obra que não é mais nada a não ser algo que revela um estilo interessante por parte do seu realizador.

2001: Odisseia no Espaço não tem objectivo. É penas um conjunto de sequências bem elaboradas, com um estilo único. Mas com que propósito é que são mostradas? Será que têm algum objectivo? Alguma mensagem?

Não. Infelizmente não.

O faco de um filme ter, de facto, uma história diferente e original não lhe dá qualquer tipo de substância. 2001 é um filme sem sentimentos, sem mensagens.

Mas enfim... tecnicamente, está muito bem feito. Mas é preciso mais que isso, para fazer um filme verdadeiramente bom. Porque, tal como eu disse antes, este filme não tem personagens. Tem apenas longas cenas, sem qualquer objectivo.


5/10

18 comentários:

Carlos M. Reis disse...

Já devias saber que uma das regras para ser aceite no mundo do cinema é venerar Odisseia no Espaço. Quando começares a ser visitado com frequência por muita gente, vão-te massacrar. Eu já conheço a missa :)

Cumprimentos, boa sorte para o blogue!

Gonçalo Trindade disse...

Sim, pois... já estou á espera disso :p. Mas é óbvio que, aconteça o que acontecer, não mudarei de opinião. Comigo, o filme simplesmente não resultou. Não posso, no entanto, chamá-lo de sobrevalorizado, pois é de facto um filme verdadeiramente único.

Muito origado pela visita e pelos desejos de boa sorte :)

Anónimo disse...

O filme pode ser um clássico, pode ser uma obra-prima, mas comigo também não me entrou bem nos neurónios :P

Agora hoje em dia, o que está na moda é venerar Tarantino ehehehehh! Ele e o Kill Bill!

MPB disse...

Eu acho o filme uma obra-prima, assim como acho Solaris de Tarkovsky também outra obra-prima.

E não acho que exista uma moda de gostar de Kubbrick, existe é gente que diz que gosta, mas só viu a superfície de filmes como SHINNING , LARANJA MECANICA, STANGERLOVE, LOLITA ou BARRY LYNDON.

Eu sinceramente acho que Kubbrick não é um realizador, juntamente com Murnau, Lang, Welles, Tarkovsky e Stroheim, são verdadeiros Artístas.

cumps

gil sóter disse...

Toda sorte de coisas já foi dita sobre 2001. Isso parace bom. Especular sobre o que nos intriga parece positivo.
A tua crítica, ou texto, é cheio de certezas, não?, repleto delas, citadas repetidamente. O que tenho a dizer é que entender cinema como uma fábula pedagógica, que trate de um tema, que defenda uma tese, que eduque por A+B, é limitá-lo.
Open the door, Hal.
Open you mind, caro blogueiro.

Gonçalo Trindade disse...

Certezas? É a minha opinião. Se consideras uma opinião como uma certeza, tudo bem. Não limito o filme de forma nenhuma, refiro-me a ele como aquilo que ele significa para mim: um filme visualmente atractivo, nada mais. Um filme cujo único objectivo é, quanto a mim, servir de proeza técnica. E, dessa forma, e na minha opinião, 2001 é um filme extremamente limitado.

Creio que Kubrick não encarou a história da forma correcta. Pegou numa maravilhosa fábula sobre a evolução humana e transformou-a num film sem sentimentos, que não tem nenhum aparente objectivo.

Agora, esta é a minha opinião. Mas vir aqui dizer "Ahhh caro blogueiro, abra a mente"... eu vi o filme com a minha mente o mais aberta possível. Tal como o faço com qualquer outro filme. Visionei 2001 mais que uma vez, não tive dificuldade em, digamos, "perceber" a história (até porque já tinha ouvido falar bastante do livro), mas, muito sinceramente, creio que o 2001 vale mais pelo prodígio técnico que é do que outra coisa qualquer.
É provavelmente dos mais únicos filmes que o cinema jamais viu, e tenho muito respeito por esta obra. Kubrick foi um cineasta brilhante, grandioso. Mas 2001, infelizmente (e na minha opinião), não é um grande filme. Longe disso.

António Botelho disse...

http://www.kubrick2001.com/

Vê se aprendes qq coisa

Gonçalo Trindade disse...

Isso é apenas um pequeno resumo/explicação da história de um mau filme. História essa que eu não tenho problemas em perceber (ou tu és daqueles que dizem "Ahh se não gostam é porque não percebem!"?).

Prefiro mil vezes a obra literária de onde foi adaptado (se não leste, lê... talvez sejas tu a aprender qualquer coisa). Adoro a história, apenas odeio a forma como Kubrick a encarou.

Anónimo disse...

"eu vi o filme com a minha mente o mais aberta possível."

Pena que mesmo assim não tenhas conseguido perceber a riquíssima mensagem do filme...e digas alarvidades como..."apenas pegou na tecno para fazer um bom filme visual"...fica-te pelos star wars puto e nao faças blogs a escrever asneiras.

MASEIAS disse...

Concordo com o que escreveu.
O filme é cansativo, sem história, parece apenas uma brincadeira com lentes e filtros de câmera.
Aliás, nunca assisti um filme de Kubbrick que seja interessante.
É apenas modismo.

Gonçalo Trindade disse...

Farpa: Nesse caso, certamente não te voltarei a ver por aqui. Temos pena (ou não). Vi o filme com a mente o mais aberta possível. Não gostei. Paciência. Agora vai ali para um canto aprender alguma coisa sobre o conceito de "arte" e "subjectividade", vá...

Maseias: Do Kubrick, no geral até gosto bastante. Mas percebo bem a opinião, é mesmo daquele cinema que ou se gosta ou se odeia. Do 2001 não gosto, mas adoro o Shining e o Clockwork Orange. Mas são gostos, opiniões... é o mais belo do Cinema, a sua subjectividade :)

Miguel disse...

Eu respeito a tua opinião, mas é um pouco estranho teres apreciado tanto a beleza e poesia de "The Foutain" e não gostares do 2001. Olha que ambos são mais parecidos do que á partida aparentam. O 2001 é mais frio, sim, mas isso deve-se aos personagens e contexto da história. Agora as mensagens subjectivas de espiritualidade e transcendência transbordam em qualquer um dos dois. Foram os melhores que já vi nesse sentido, com o 2001 á cabeça.

Jayson'Line disse...

Tenho uma opinião diferente do autor do post, mas não vou comentar aqui (não quero levar patadas, com os que escreveram antes de mim).

Contudo, preciso dizer algo: o filme NÃO é uma adaptação do livro. Ambos foram escritos simultaneamente (senão, "2001..." não teria sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original.

A.Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A.Pereira disse...

Ola. Estou a ver que este post é um pouco antigo. De qualquer forma, acabei de ver "partes" do filme 2001:Odisseia no espaço.Mas depois de ler uns resumos, apercebi-me que o filme é muito mais do que aparenta. Secalhar se te informasses melhor terias outra perspectiva. Parece que a minha opinião diverge um pouco da tua: só consegui ver partes do filme porque achei escessivamente parado, mas gostei do enredo e da mensagem.
nota: parece que vai dar outro filme do Kubrick: o laranja mecânica; mas este filme deixa-me um bocado mal disposta, por isso acho que não o vou ver=)

Gonçalo Trindade disse...

Ainda bem que este post, mesmo sendo tão antigo, continua a receber comentários :).

Miguel: Também creio que ambos os filmes têm pontos de contacto, mas creio que o 2001, dada a sua frieza, não consegue pelo menos em mim transmitir qualquer tipo de impacto emocional. The Fountain assenta muito nisso, já que é, para todos os efeitos, uma belíssima história de amor. 2001 tem realmente algumas belas mensagens, todas elas subtis (algo que adoro no Kubrick), mas a mim pessoalmente não me agradou. Mas tinha uma mentalidade diferente na altura em que fiz o post... revi o filme recentemente e a minha opinião mudou um pouco, mas não muito. Tenho um respeito enorme pelo filme, mas pessoalmente não me agrada.

Jayson's Line: Verdade, descobri isso depois. Acho que digo algures num comentário que é uma adaptação, mas foi um erro meu. Até é um caso curioso, este de o filme e o livro terem sido feitos simultaneamente...

Ana C. Pereira: Acho que realmente se ganha um maior respeito pelo filme ao ver uns resumos e ler algumas opiniões (e há muito disso por aí, felizmente). Acho que é um filme de valor inegável, mas pessoalmente não me agrada muito :/. E realmente é um filme de um rito difícil... eu por acaso sempre fui muito tolerante a isso, tanto que vi o filme da meia-noite às quase três da manhã e nem sono me deu :p. Sou cafeína ambulante. O Laranja Mecânico percebo bem o que dizes... não é um filme fácil e não é para todos. Mas quando se adora, adora-se mesmo :). É o meu favorito do Kubrick, dos que vi dele.

Pedro disse...

Você disse que "A história não tem nenhuma lição moral, a história não é nenhuma metáfora para a demonstração de sentimentos humanos."

Primeiro que uma boa história não precisa de lição moral.
Mas mesmo assim o filme fala sobre muitas questões importantes a respeito do ser humano.

Logo no inicio do filme Kubrick já consegue demostrar o desejo de dominação e a raiva que pertence a nossa raça.

Ao longo do filme ele mostra como o ser humano "racional" se tornou. Vivendo uma vida de merda só para explorar o universo.

Depois tem a cena que você destacou como brilhante do computador HAL, que apesar de ser uma máquina criada pelo homem cria vida própia e se volta contra o criador.

Por fim o filme mostra a morte seguida da transformação do homem em outro ser.

Só ai já estão 4 pontos interessantes. Além deles o filme fala sobre diversos aspectos da evolução, sobre o aperfeiçoamento de ferramentas e deixa a questão do monolito para a livre interpretação.

Acho bobagem falar que o filme "não é nenhuma metáfora para a demonstração de sentimentos humanos."

O filme é realmente arrastado, e deixa a sensação de que só 30 minutos de 2h tem conteudo, mas o tempo sem tanto conteudo é preenchido com belas cenas e dá a oportunidade do espectador de refletir.

Também pode-se atribuir a lentidão do filme ao intuito de demostrar a vida no espaço.

Pedro disse...

E o filme tem personagens.

O HAL, os hominideos, os astronautas, o monolito(dependendo da interpretação).