quarta-feira, julho 25, 2007

Harry Potter e a Ordem da Fénix, de David Yates


Atribulada adolescência

"Harry Potter e a Ordem da Fénix" é a quinta adaptação dos famosos (e brilhantes, como eu já tantas vezes afirmei neste blog) livros de J.K. Rowling. Este é o quinto de sete filmes baseados em sete livros. E como é que são os filmes, comparados com os livros? Bem... os filmes são como os livros... com bastantes coisas cortadas, e com tudo a decorrer em fast-forward. Ou seja, nenhum dos filmes até agora conseguiu chegar sequer aos calcanhares do respectivo livro. No entanto, na minha opinião, estes filmes devem ser julgados tal e qual como aquilo que são: filmes. Ou seja, devemos julgá-los e analisá-los como obras cinematográficas, em vez de simples adaptações de obras literárias previamente criadas.
Assim sendo, posso afirmar que creio que todos os filmes conseguiram até agora manter um extremamente aceitável nível de qualidade. E o mesmo acontece com este "Harry Potter e a Ordem da Fénix", o mais negro e mais adulto dos cinco filmes até agora criados.

Agora com quinze anos, Harry Potter (Daniel Radcliffe) atravessa aquela atribulada fase da puberdade, tendo ao mesmo tempo de se preocupar com o facto de o Ministério da Magia não reconhecer que Lord Voldemort regressou. Na tentativa de impedir que Harry e Dumbledore (um hiperactivo e irritante Michael Gambon) convençam o resto da população de feiticeiros que Voldemort (um sempre agradável Ralph Fiennes) regressou de facto, é enviada para Hogwarts, com o objectivo de espiar/manter sob controlo o que se passa na escola, Dolores Umbridge (fantástica Imelda Staunton), que ocupa na escola o cargo de professora.

Daniel Radcliffe está igual a si mesmo (ou seja, suficiente apenas para transmitir à personagem a profundidade necessária para que o espectador se preocupe minimamente com aquilo que lhe acontece), e o mesmo se pode dizer acerca de Emma Watson (que faz de Hermione Granger) e Rupert Grint (que faz de Ron Weasley). De facto, neste filme nem Emma nem Rupert têm grande coisa que fazer, já que toda a história ocorre à volta de Harry e dos seus problemas hormonais (problemas esse que Rowling trata de uma forma exagerada no livro respectivo, criando assim o pior capítulo da saga). Tanto Ron como Hermione são apenas os amigos de Harry Potter... e nada mais.



Felizmente, temos Imelda Stunton num papel simplesmente fabuloso, que cria uma Dolores Umbridge fascinante e desagradável ao mesmo tempo, dando ao filme uma tão necessária magia que de outra forma este poderia não ter. Gary Oldman faz um belo papel como Sirius Black, o padrinho de Harry, e o maior mérito do filme é o facto de este conseguir mostrar a profundidade da relação entre ambos. Sirius revive em Harry a amizade que tinha pelo seu pai, James Potter, e Harry vê em Sirius a possibilidade de ter aquela família que nunca teve. A relação entre Sirius e Harry nunca tinha sido tão explorada como neste filme, e David Yates sabe exactamente como a desenvolver, comovendo o espectador com a relação entre este padrinho e o seu afilhado. É claro que é óbvio que este desenvolvimento ocorre apenas na tantativa de dar mais ênfase e poder a uma certa coisa que acontece numa certa parte do filme... mas ainda assim, é uma bela exploração destas duas personagens.

O filme tem todo ele um ambiente mais negro e mais adulto que os filmes anteriores, mas ainda assim não é uma obra tão conseguida como "Harry Potter e o Cálice de Fogo". David Yates não consegue dar a profundidade emocional necessária a um filme que é, à partida, todo ele sobre a adolescência e os seus múltiplos problemas. Ainda assim, a forma como Yates aproxima a história é minimamente interessante, e o filme consegue, tal como disse, manter um muito aceitável nível de qualidade. E, tendo em conta que do pior dos sete livros saíu um dos melhores filmes, não posso evitar ficar curioso em relação à forma como este realizador irá fazer a adaptação de "Harry Potter and the Half-Blood Prince", esse sim um livro verdadeiramente magnífico.

Mas por agora ficamos com este "Harry Potter e a Ordem da Fénix" que, apesar de não ser um grande filme (tal como nenhum deles o foi até agora), proporciona ainda assim uma bela ida ao cinema, divertindo e emocionando o espectador durante as suas duas horas e quinze minutos de duração (sendo, pois, este o mais curto dos cinco filmes... curiosamente baseado no maior livro da saga).



7/10

2 comentários:

Anónimo disse...

Sempre fui ver o filme aqui à duas noites... Francamente motivou-me a ir o Gary Oldman que, diga-se, salvou o filme... acho que faltou ali qualquer coisa. Não sei explicar bem o que é, talvez o seu lado negro não tenha sido bem explorado... Os mistérios já não sabem a mistérios... acho que foi isso.

E tens razão, talvez do livro se consiga tirar a essência que no filme soube a quase nada...tirando o "padfoot" é claro!

Fica bem

Gonçalo Trindade disse...

Também acho que o lado negro devia ter sido mais explorado... e tenho pena de não terem aproveitado devidamente o Gary Oldman ao longo da saga (só neste filme é que ele teve mais relevância).
Mas ainda assim, acho que coseguiu manter um muito aceitável nível de qualidade. Enfim... entretém.

Fica bem :)