sexta-feira, maio 11, 2007

Spider-Man 3, de Sam Raimi


No meio de tantas teias, a aranha enrolou-se...



"Spider-Man 3" não é um fracasso. Não é um desastre. Longe (mas não muito) disso. Existe, de facto, uma forma perfeita de apreciar este filme. Algo que qualquer pessoa deve fazer, antes de entrar na sala de cinema. Se querem apreciar este filme pelo que é, há algo que devem fazer primeiro: baixem as expectativas. É essa a única forma. Tal como disse, o filme não é um desastre. Mas tendo em conta o segundo filme da saga... "Spider-Man 3" deveria ter sido mais.



Devo dizer que tinha baixas expectativas quando entrei na sala de cinema. A única coisa que ouvia era "blah blah três vilões blah blah venom blah blah um dos filmes americanos mais caros de sempre blah blah". Isto era algo que me assustava verdadeiramente. TRÊS vilões? "Homem-Aranha 2" resultou tão bem devido ao magnífico Alfred Molina, que criou um Doc Ock algo nobre e ameaçador, e devido a um argumento excelente que desenvolvia de forma maravilhosa a relação entre este vilão e o seu inimigo respectivo (Homem-Aranha, obviamente). Mas então... como é que iriam conseguir fazer isso com três vilões? Os meus receios confirmaram-se, e essa relação tão maravilhosa existente em "Spider-Man 2" não ocorre em "Spider-Man 3".

Este terceiro capítulo é uma salganhada. É um filme que tenta ser demasiado ao mesmo tempo, acabando no final por não ser nem metade daquilo que podia (e deveria) ter sido. A primeira meia-hora é, pura e simplesmente, DOLOROSA. Não há outra forma de o dizer. A estrutura narrativa é horrível, com demasiado a acontecer ao mesmo tempo de uma forma demasiado rápida. O espectador não é absorvido pela história... simplesmente é atirado para dentro dela. Durante estes trinta minutos, dei por mim a pensar "Mas... será que foi mesmo o Sam Raimi que realizou isto? Ou será que o homem seimplesmente enlouqueceu?".

Mas, felizmente, a história depois acalma. Encontra-se o (tão pouco desenvolvido) tema principal... nomeadamante, a importância do perdão e o lado auto-destructico da vingança. Um tema interessante, mas que pura e simplesmente não é tratado da forma como deveria ter sido. Mas enfim... a história acalma, as personagens começam a ser mais desenvolvidas... mas o tom não está correcto. Isto deve-se a dois terríveis problemas: a própria estrutura narrativa do filme e a sua forma incompetente de interligar cenas... e a banda-sonora. Falarei de duas cenas em particular, para ilustrar estes dois problemas (sem spoilers, é claro).



A primeira cena é sem dúvida, ainda assim, uma das melhores (senão mesmo A MELHOR) do filme.... o nascimento de Sandman. É um cena sensível, bem desenvolvida, que trata este vilão como se fosse... uma criança, que dá agora os seus primeiros passos num mundo novo. A banda-sonora é também ela sensível, adequada... até ao final. No final da cena, quando Sandman adquire finalmente a forma humana e se levanta do chão, a banda-sonora toma de repente um tom negro, ameaçador... e o espectador fica confuso. Afinal de contas, aquela cena deveria ter sido bela ou asustadora? E será que Sandman é um simples vilão... ou algo mais? A banda-sonora acaba por estragar o final da cena, que poderia ter sido perfeita se o tom tivesse sido mantido do princípio até ao fim. A banda-sonora difere (pela negativa) da dos outros dois filmes. Danny Elfman decidiu abanadonar o lugar de compositor desta saga, após alguns conflictos com Sam Raimi que ocorreram durante "Spider-man 2". O lugar foi ocupado por Christopher Young, compositor de tais obras-primas como "Species - Espécie Mortal", "Ghost Rider", "The Core - Detonação", e ainda do simplesmente brilhante "A Mosca II" (um filme que ainda me causa repulsão, só de falar nele... como se atreveram?). Christopher Young cria uma banda-sonora simples, repetitiva, e banal.

A segunda cena de que quero falar é a do grande climax do filme. Um enorme batalha, com gigantescos efeitos visuais, e sem dúvida a mais elaborada da saga em termos de cenários e número de personagens. Durante esta batalha, a acção é interrompida para um comic-relief que envolve JJ Jameson (a mais cómica personagem da saga, sem dúvida) e uma rapariguinha com uma máquina fotográfica. A cena tem a sua graça... mas o que é que está ali a fazer? Será que o público se deveria mesmo rir no meio de uma batalha daquelas? Num lado temos uma jornalista a gritar "Oh! The brutality!" (oh! a originalidade desta linha de diálogo!), e no outro temos o Jameson com um comic-relief... qual era o tom que o Sam Raimi queria criar, exactamente? Que deve sentir o público, perante esta batalha final?

Problemas deste género acontecem constantemente. Aliados a um argumento repleto de clichés (o herói a chorar com o nascer-do-sol por trás?! Mas que raio?!) e de coincidências (a simbiose cai, sabe-se lá donde, mesmo perto do Peter.... que conveniente... mas não tão conveniente como ter Flint Marko, o vilão do filme, a cair acidentalmente num laboratório (que, por acaso, até era ao ar livre.. pois, estas medidas de segurança...) no preciso momento em que se vai realizar uma anorme experiência que pode ter gaves consequências para o ser humano (nomeadamente, transformá-lo num ser que se pode converter em areia)... e no meio de todas estas coincidências, ainda há aquele mordomo... enfim...), e um Tobey Maguire com alguns problemas em fazer conseguir sair as lágrimas necessárias e que acaba por dar "simplesmente" mais do mesmo ao espectador, "Homem-Aranha 3" acaba por não ser nem metade daquilo que poderia ter sido.

Mas volto a dizê-lo: o filme não é um desastre. Para contrabalançar todos estes problemas, temos uma Kirsten Dunst inspirada (de facto, a história de Mary Jane foi desenvolvida de uma forma extremamente competente neste filme), e um James Franco que pode finalmente fazer alguma coisa com a sua personagem (um Harry Osborn com desejos de vingança... desejos esses que podem finalmente ser executados). E além disso... há as cenas de acção, todas elas bastante elavoradas e cheias de adredalina. Mas note-se o seguinte: "Spider-man 2" tinha apenas duas ou três grandes cenas de acção... e "Spider-man 3" tem provavelmente o dobro. "Spider-Man 2" foi um excelente filme ( o terceiro melhor filme de super-heróis jamais feito, logo a seguir aos dois "Batman", do grande Tim Burton)... "Spider-man 3" fica-se por ser bom entretenimento.

O filme, no geral, resulta. Entrei na sala de cinema com baixas expectativas, e saí do filme impressionado (quer dizer... impressionadito...). É um grande blockbuster, acima da média, com excelentes cenas de acção, alguns bons momentos de humor e... entretém. Por mais falhas que lhe encontre, não posso negar que o filme me entreteu. Algumas cenas verdadeiramente bem conseguidas (volto a dizer que gostei bastante da forma como desenvolveram as personagens de Harry Osborne e Mary Jane), excelentes efeitos visuais (apesar de, ainda assim, seria de esperar mais de um filme com este orçamento...) e, no geral, é bom entretenimento. Não há outra forma de o descrever. Levem alguns amigos, um balde de pipocas... e baixem as expectativas.

Porque, afinal de contas, este filme é apenas bom entretenimento... e nada mais.




6.5/10

2 comentários:

Carlos M. Reis disse...

As críticas tem sido avassaladoras (no mau sentido). Depois de ter adorado o segundo filme, ainda estou com medo da desilusão. Talvez hoje à noite, ganhe coragem e salte para uma sala de cinema. Talvez.

Um abraço Gonçalo.

Gonçalo Trindade disse...

O segredo é baixar as expectativas. Qualquer pessoa que esteja à espera de um filme tão bom como "Spider-man 2" irá apanhar uma terrível desilusão. Este terceiro capítulo é um blockbuster acima da média... mas nada mais.

Creio que se baixares as expectativas conseguirás apreciar "Spider-Man 3". É bom entretenimento, não há outra forma de o descrever (a meu ver, é claro... parece que sou das poucas pessoas que dá uma nota positiva ao filme...). Mas o segundo capítulo era muito, muito mais...

Um abraço Knoxville. E bom filme (espero eu...)!