domingo, dezembro 03, 2006

Análise de Banda-Sonora: The Fountain, de Clint Mansell

Intelecto-Pessoal


No início, a banda-sonora do aguardado filme «The Fountain» era para ser algo épico, algo com um ritmo mais rápido, com um maior uso de coro, etc etc. Darren Aronofsky decidiu, no entanto, que seria melhor fazer uma banda-sonora mais pessoal, que se concentrasse mais em transmitir os sentimentos das personagens.

E é exactamente isso que esta excelente banda-sonora é.: extremamente pessoal... mas ao mesmo tempo verdadeiramente única.

Clint Mansell e o Kronos Quartet composeram uma banda-sonora com um tom... algo sci-fi punk. A forma como os sons mais agudos, as próprias melodias mais comuns que são usadas... tudo isso transpira um estilo diferente daquilo a que estamos habituados. Pessoal e diferente ao mesmo tempo.
Mesmo as músicas mais épicas, (a incrível, emocionalmente resonante «Death is The Road to Awe») conseguem fazer o espectador sentir um pouco os sentimentos que as personagens devem estar a sentir naquele momento, em vez de simplesmente o impressionar com a forma como a música foi criada. Tendo em conta que eu ainda não vi o filme (vai uma aposta em como as distribuidoras só o vão lançar em DVD?), tenho de deixar a minha imaginação criar aquela cena em particular. Isso é, no entanto, surpreendentemente fácil de fazer, pois as músicas moldam a minha imaginação, transportam-me pelos sentimentos das personagens.
Todas as músicas têm um certo tom emocional que dá para perceber perfeitamente o tipo de filme que irá ser «The Fountain». A maravilhosa música «The Last Man», que é tocada apenas por um piano, revela todo o poder emocional que o filme poderá ter, e a música em si está composta de forma excelente, com aquele tom triste que acalma e leva o ouvinte numa onda de sentimentos.

O único defeito da banda-sonora poderá ser a repetição em algumas músicas, nas quais as mesmas melodias são tocadas demasiadas vezes, até a música avançar finalmente para o seu clímax.

Mas no geral, Clint Mansell compôs uma excelente banda-sonora. Imagino que, quando ouvida e experimentada juntamente com o filme, o efeito emocional de todas estas músicas é ainda maior.

Esperemos que o filme não demore muito a chegar ao nosso país (mas continuo com o palpite que as distribuidras só o irão lançar em DVD... esperemos que eu esteja errado).


8.5/10




sexta-feira, dezembro 01, 2006

Casino Royale. de Martin Campbell

Reboot


Grande parte dos fãs torceu o nariz quando foi anunciado que Daniel Craig iria ser o novo 007, após o abrupto e inesperado despedimento de Pierce Brosnan por parte dos produtores da saga.
Muitos disseram que era um erro, afirmando que Craig não poderia ser um bom James Bond, devido ao facto de ser louro, e de não ter aquele ar de galã tão característico dos anteriores intérpretes do agente secreto. Exacto. O homem é louro, logo é um mau actor.

Lembro-me de pensar para mim próprio... "Mas que raio? Será que ninguém viu o Munique?".

Pois... parece-me que não viram, não...

Descontentes com a direcção que a série estava a tomar (e com muita razão! Hale Berry como Bond Girl? Tema principal da Madonna? Efeitos visuais a torto e a direito? A saga estava a banalizar-se em cada novo capítulo...), os produtores da saga decidiram que era necessário um reboot, um novo capítulo que fizesse Bond regressar às origens.
Adapta-se um filme do primeiro romance de Ian Fleming, contrata-se um actor tão diferente do habitual James Bond, e traz-se de volta o realizador que anteriormente trouxe a série de volta. Mas será que isso resolveu mesmo o problema?

Sim. «Casino Royale» é um excelente filme, e Daniel Craig soube calar todos os que o criticavam, interpretando um James Bond o mais próximo possível do que foi idealizado por Ian Fleming.

Este é, sem dúvida, um dos melhores filmes de toda a saga. Paul Haggis escreveu um mangífico argumento, concentrando toda a complexidade da história, e sabendo manter mesmo assim a profundidade emocional de todas as personagens. De facto, este Bond tem um certo impacto emocional que nenhum dos outros filmes da saga conseguiu ter, devido à importância que dá ao relacionamento entre James Bond e Vesper Lynd, o grande amor do agente secreto.

Eva Green brilha como Bond Girl, e a sua química com Craig é um dos grandes trunfos do filme. Desta vez, a Bond Girl não existe apenas para ser conquistada por Bond. Desta vez é uma personagem com profundidade emocional, com a sua própria importância na história.

E, sejamos sinceros... em termos de beleza, Eva Green põe a maior parte das Bond Girls a um canto.

E o vilão... mas será que há alguma coisa mais deliciosa que um vilão a usar uma bomba de asma? Digam-me lá se esse não é, pura e simplesmente, um dos melhores pormenores jamais criados na caracterização de qualquer mau-da-fita?
Mads Mikkelsen é um excelente vilão, dando aquele lado malvado mas ao mesmo tempo humano que qualquer bom vilão deve ter. Le Chiffre tornou-se imediatamente um dos meus vilões favoritos de toda a saga.

Mas voltemos ao filme no geral... mencionei acima que Daniel Craig dava vida a um James Bond mais brutal, mais humano. De facto, este agente secreto é mais humano, ainda mais arrogante que o James Bond de Sean Connery ou Roger Moore. Desde quando é que James Bond tem de se ver ao espelho para cuidar das feridas? Desde quando é que James Bond é inexperiente ao ponto de caír em armadilhas? Este é o verdadeiro James Bond. O James Bond de Ian Fleming.

As cenas de acção são mais realistas e logo mais elaboradas (a perseguição perto do início do filme é espectacular), dando ao filme um carácter muito mais sério.

Basicamente, este é um magnífico reboot, um excelente regresso às origens.

Este é James Bond tal como ele deve ser, tal como foi idealizado por Ian Fleming. Mais brutal, mair arrogante, mais humano...

«Casino Royale» é um excelente filme, um filme que agradará a qualquer verdadeiro fã do agente secreto mais famoso do Mundo... e, muito provavelmente, também cativará alguns novos fãs.

Ian Fleming ficaria orgulhoso.



9/10